Santé! A Puglia (Apúlia em português) situa-se exatamente no salto e calcanhar da bota italiana. Tendo Bari como capital, é banhada pelos Mares Adriático e Jônico. Nessa importante região vitivinícola predominam uvas como: Negroamaro, Primitivo, Sangiovese, Sussumaniello, Malvasia Nera, Aglianico, Montepulciano, Nero di Troia, Bombino Bianco, Trebbiano, Verdeca, Vermentino, entre outras que dão vida a vinhos de muito caráter, em especial tintos densos e profundos.
O conhecido Primitivo di Manduria, apreciado por muitos e resistente a outros, é proveniente dessa zona vinífera. A Primitivo também conhecida como Zinfandel é clone da croata Crljenak Kastelanski, que se acredita, foi trazida da Croácia para a Puglia pelo mar Adriático no século XIII. E lá batizada de primativo (latim) por florescer e amadurecer mais rápido.
Convidada pela Decanter Vinhos, sob a batuta da Ch2a Comunicação, degustei rótulos preciosos da Vinícola Felline, da Puglia, onde Salvatore Mero, agrônomo da mesma, junto ao sommelier Tiago Locatelli, conduziram a prova, via zoom diretamente da Itália. Uma imersão aos tipos de solos da Azienda Felline, uma das protagonistas do sucesso do Primitivo di Manduria no mundo.
A Felline localiza-se em Manduria, e segundo Salvatore, é privilegiada por terras planas, de cores diferentes e clima mediterrâneo. Seus vinhos são a expressão máxima desse terroir. A Primitivo, utilizada no vinho Archidamo, por exemplo, advém de terra rossa, solo argiloso de terra avermelhada onde há concentração de óxido de ferro e alumínio. E isso resulta um vinho cor rubi intenso, balsâmico e maduro, que afinado em bottis (grandes tonéis) de carvalho francês, desliza na boca com textura acetinada.
Em solo negro onde a terra nera de origem aluvial é formada por material orgânico de antigas florestas e da erosão de rochas, cultivam a Zinfandel, que comprovadamente tem DNA idêntico a californiana. Esta dá origem ao Sinfarosa, único rótulo não americano degustado anualmente no ZAP (Zinfandel Advocates and Producers), na California, onde há a maior concentração de vinhedos de Zinfandel do mundo.
Em solo arenoso, sabbia, os raros vinhedos da Primitivo di Manduria se encontram perto das dunas, e são testemunho de uma viticultura ancestral e única com rendimentos muito baixos e em pé franco. Aqui a rara cepa dá origem ao Dunico (único das dunas), um vinho encorpado, de acidez privilegiada, com estágio em carvalho francês, de uma elegância ímpar.
Confesso, me surpreendi! Os Primitivos di Manduria da Felline são de uma harmonia entre fruta, frescor, corpo, álcool e taninos que jamais vi. Com videiras de mais de 60 anos cultivadas em alberello ou arbustos orgânicos, os vinhos expressam a terra de Manduria. Sob o comando de Gregory Perucci a Felline cria vinhos muito equilibrados, elegantes e complexos, Primitivos de diferentes “Crus”, sem excessos, o oposto a caldos chatos (baixa acidez), tânicos e adocicados.
Que tal um Primitivo nesse friozinho? Até a próxima taça!
