Santé! Que grande prazer visitar Portugal, saber de perto a sua história, provar da sua cozinha infinitamente deliciosa e degustar seus vinhos envolventes!
Torre de Belém (foto 1)

Assim que cheguei logo turistei na linda cidade de Lisboa. Conheci o Mosteiro dos Jerônimos, a Torre de Belém (foto 1), o moderno e dinâmico Oceanário, os tradicionais Bairro Alto e o Chiado, o Mercado da Ribeira (moderno paraíso gastronômico) e muitos redutos e praças grandiosas antes do pôr do sol, e tudo de tuk tuk (triciclo motorizado, como na Índia). Sim, em Lisboa você encontra diversos desses mini veículos e pode escolher fazer um tour mais independente, durante o dia, uma vez que durante o verão o sol brilha até umas 20h30.
Estátua de Fernando Pessoa (foto 2)

À noite Lisboa ferve! Após um drink de vinho espumante rosé, no bar do Bairro Alto Hotel, num terraço com vista estonteante para o rio Tejo, não me contive em conhecer o Ofaia – Casa de Fados, onde a fadista Anita Guerreiro, no auge de seus 80 anos muito me emocionou com sua voz e lindas canções, show! Ofaia é restaurante e durante o jantar, servido calmamente, diversos fadistas se revezam. Se você gostou dessa dica, sugiro reservar antes, pois a procura é grande, casa lotada todas as noites. Um cafezinho no tradicional café A Brasileira (fundado em 1905) dá direito a foto com o poeta Fernando Pessoa, frequentador assíduo na sua época, cuja estátua (foto 2) é concorrida entre os notívagos, e lá fui eu, e clic!
Estive também no simpático e divertido restaurante Sea Me – Peixaria Moderna, no Chiado. Lá você escolhe o que irá para o seu prato, entre peixes e frutos do mar, expostos e fresquíssimos. E claro, os melhores vinhos brancos, rosés e tintos nacionais. Nessas redondezas, no Baixo Chiado, fica o imponente Elevador do Carmo, inaugurado em 1902, construído em ferro fundido com desenhos em filigrana, e que detém uma visão fantástica da cidade. Vale a pena a subida!
A estrada que liga Lisboa a Évora, no Alentejo, corta os campos de sobreiros nativos da região. Sobreiro é a árvore da qual se extrai a cortiça, matéria-prima tão perfeita que até hoje nenhum processo industrial ou tecnológico conseguiu igualar. E é Portugal que lidera o mercado mundial, com mais de 50% de produção.
O quercus sober, o sobreiro, precisa de 25 anos para ser descortiçado pela primeira vez, e depois a cada nove anos sua casca é retirada novamente. Ao longo de uns 200 anos de vida ocorrerá umas 17 extrações. No que tange à produção de rolhas, a extração boa só virá a partir do terceiro descortiçamento. As duas primeiras extrações resultam em matéria-prima para isolamento, pavimentos e outros fins. Isto significa que, para produzir cortiça de qualidade para rolhas, cada sobreiro necessita de mais de 40 anos. Paciência é necessário!
O fruto do sobreiro é a bolota, que é alimento para os porcos pretos locais, e estes, por sua vez, dão origem a pratos da culinária regional alentejana e também ao presunto ibérico ou pata negra. Já provou? É uma loucura de bom!
Cidade histórica de Évora (foto 3)

Já no Alentejo, na cidade histórica de Évora (foto 3), fundada em 1166, hoje Patrimônio Mundial pela Unesco, fui visitar a Fundação Eugênio de Almeida, que administra a Adega Cartuxa, produtora do mais famoso vinho português, conhecido mundialmente, o Pêra-Manca. (O nome Pêra-Manca vem de pedra manca ou pedra que oscila por ter formação arredondada. Por conta do dialeto regional do Alentejo, apenas!). Aliás, o Pêra-Manca é um vinho tão antigo que o próprio Pedro Álvares Cabral o teria trazido para o Brasil em sua nau. Isso sim é fascinante!
Casa de repouso dos Jesuítas, Adega Cartuxa (foto 4)

Fui recebida na Fundação por Gabriela Fialho, gerente de exportação e também por Vitor Nunes, representante da marca no Brasil. Em 1963 o engenheiro Vasco Maria Eugénio de Almeida doou parte de sua fortuna para ser constituída a Fundação com nome de sua família, pelo simples motivo de não ter herdeiros descendentes, apenas a esposa, que faleceu recentemente. O estatuto da instituição foi estabelecido em testamento do próprio Eugénio, onde deixou explícito que não se trata de uma empresa e sim uma instituição privada de utilidade pública e solidariedade social, sem fins lucrativos, onde os rendimentos advindos das áreas produtivas, ou seja, vinho, agropecuária e azeites, servem para desenvolver a cidade de Évora, em 4 níveis diferentes: espiritual, cultural, social e educativo, aliás o presidente da F.E.A. é sempre o atual arcebispo da cidade de Évora. Vale notar que o nome da Adega, onde são elaborados os vinhos, é Cartuxa, não à toa, pois segue o caráter espiritual da F.E.A. por encontrar-se vizinho ao Mosteiro da Cartuxa. Lá, os monges cartusianos vivem em clausura desde sua construção, em 1598. Sim, é um mosteiro ativo e o único local em Portugal onde ainda vivem monges. Incrível! Esse complexo enoturístico está instalado na antiga casa de repouso dos Jesuítas, onde ainda hoje estagiam alguns rótulos da F.E.A. (foto 4)
Em meio a tanta história, a Adega Cartuxa é das mais modernas que visitei. Altíssima tecnologia e precisão de fibra ótica até na seleção das uvas a vinificar. Grandes balseiros (tonéis de carvalho francês com capacidade para 30 mil litros) fermentam as uvas em separado para o Pêra-Manca, Cartuxa e o Scala Coelli, que depois estagiam em tonéis de 3 mil litros ou barricas também francesas de 225 litros. A Cartuxa também elabora a linha básica Vínea, além da linha EA e dos espumantes.
Rótulos da nova Enoteca Cartuxa (foto 5)

Degustei muitos rótulos num almoço fantástico na nova Enoteca Cartuxa (foto 5), que fica no centro de Évora, e recomendo, pois o simpático chef nos serviu pessoalmente seus quitutes portugueses. As lascas de bacalhau laminadas são dos deuses, água na boca só de lembrar! E se você quiser provar um Pêra-Manca, no local tem uma enomatic, a taça custa 20 euros. (foto 6)
Enomatic (foto 6)

Uma dica tradicional em Évora é jantar no restaurante Fialho, onde o senhor Amor Fialho nos recebe com toda atenção e refinamento. O elegante restaurante estampa em suas paredes fotos de celebridades, reis e presidentes que lá saborearam a famosa comida alentejana. Prove o bolinho de bacalhau, o porco preto com purê de maçã, o bacalhau à lagareiro, os ovos moles... ah! imperdíveis! (foto 7)
Comida Alentejana no Restaurante Fialho (foto 7)

A Dama dos Vinhos Alentejanos
Montemor-O-Novo fica no distrito de Évora, em 30 minutos de estrada lá fui eu visitar a Dama dos Vinhos Alentejanos, Dorina Lindemann (tema desta coluna em 13/03/2015 - Ver Artigo "A Dama dos Vinhos do Ajentejo"). Ela me recebeu em sua propriedade de 120 hectares e que abriga o maior viveiro (Viveiro Plansel) de mudas de castas portuguesas, criado por seu pai, o alemão, Jorge Böhn. Autor do livro: O Grande Livro das Castas, o qual fui presenteada, e fiquei lisonjeada!
É na Quinta do Plansel, de magnífica paisagem, com vinhas salpicadas de oliveiras e sobreiros, que a enóloga, germano-portuguesa, elabora seus vinhos. Dorina comanda sua equipe diariamente, nada é feito sem a sua supervisão. Na semana da minha visita ela participava da colheita acordando todas as noites às 3 da madrugada. Junto à equipe vindimaram as castas brancas e tintas já maduras, uma vez que o verão foi intenso e a colheita foi antecipada.
Provei do mosto (suco), recém prensado, das uvas de Arinto, uma doçura deliciosa, já pronto para ir às cubas de fermentação. Pude viver a intensa rotina do recebimento das uvas, sua seleção, sua prensagem, maceração nos tonéis, fiz até a primeira remontagem de Touriga Nacional que macerava em cuba de inox. Explico: as uvas já nos tanques, no processo de maceração, precisam ser remexidas da parte de cima para a parte inferior destes, provocando extração natural de sabor e cor do fruto. A sensação é muito boa! Gostei! (foto 8)